Admiro Eliane Brum
Não vou dizer que quero ser como a Eliane Brum porque não acredito que alguém que queira ser igual a outro alguém esteja bem consigo mesmo. E eu estou. Mas assumo com uma satisfação radiante a inveja que sinto desse algo mais que ela possui e transfere a tudo o que escreve. Aliás, nem acho que ela escreva. Comparando-a, o verbo escrever parece reles demais para definir a verdadeira obra-de-arte que ela tece letra por letra.
Sejam reportagens, artigos, crônicas, todos os textos de Eliane Brum refletem esse algo mais que ela possui, que chega a ser indefinível, e que dá a ela mais do que a generalista alcunha de talento. Não. Essencialmente, ela faz muito bem o jornalismo que se propõe fazer, mas isso qualquer pessoa um mínimo responsável, comprometida, faz. E assim se nutre o talento. Ela não. Brum dá mais, muito mais, do que poderia – e acho até que mais do que ela mesma imagina. Lendo-a, chego a pensar que não pertence a esse mundo.
Mais do que uma profissional talentosa, aos meus olhos de pessoa/jornalista/leitora/aprendiz, Eliane Brum possui um dom que deveria ser imprescindível em todo humanista, principalmente a quem trabalha com gente e para gente, ainda mais por meio da palavra, da expressão. Ela faz mais do que fuçar, pesquisar, descobrir: ela sente e depois transcende, através de sua lucidez espantosa, embora lindamente poética, transformando em palavras – o que, por si só, já é surpreendente – ao ponto de fazer quem lê, se identificar na hora, se reconhecer. Ela transmite de dentro pra fora, e isso já é raridade hoje em dia no meio jornalístico. Leads, manuais de redação, temas e personagens fúteis e a disputa desmedida por furos inúteis roubam a alma que não deveria se ausentar da comunicação.
Gente. Essa é a matéria-prima de Brum. Se analisarmos suas reportagens e seus artigos friamente, é o que acharemos em todas. Parece simplista demais? Já sei, parece piegas... mas não é. Ela pega um personagem comum, um desconhecido que seria considerado qualquer pelos conceitos atuais de jornalismo-espetáculo, e a partir dele transmite uma infinidade de mensagens e valores facilmente identificáveis por todo mundo, mas dificilmente reconhecidos. E explorando o que há de mais humano, ela vai expondo problemas, dramas, denúncias e o que mais precisa de atenção e de solução.
Retomar o blog, ainda no segundo mês de 2011 – misticamente considerado o ano da comunicação - sob essa influência só pode mesmo trazer sorte. Mas a sorte dos sábios, não dos dependentes do acaso. É aquela energia boa que inspira, que motiva a chegar a uma meta que vai além de mim mesma, mas que pode ser dividia com os outros a minha volta, de alguma forma. É como faz a Eliane Brum quando decide dividir com todos que a lêem o privilégio que possui da sensibilidade latente, da simplicidade em olhar para o outro tão desarmada ao ponto de se sentir igual, como todos deveríamos nos sentir e traduzir isso em algo que se lê, mas que no final das contas, acaba por nos impregnar de humanidade e da verdadeira solidariedade: aquela que não reduz ninguém à pena, mas à comunhão.
Oi, Aliz! Que bom vê-la aqui novamente!
ResponderExcluirEu também sou um admirador desta jornalista/esccritora. O último artigo que li dela é de uma lucidez admirável. Talvez você já conheça. Se não, vale a pena dar uma olhadinha. É que o tema que ela tratou é típico dos assuntos que gosto de tratar também, porém sem a mesma competência dela. Eis o link
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI71128-15230,00-O+SILENCIO+DO+MACHO.html
Um grande e saudoso abraço. Paz e bem.